No 50º aniversário da Revolução Portuguesa queremos enviar as nossas saudações ao povo português que, no dia 25 de Abril de 1974, derrotou o fascismo -pondo fim a 48 anos de ditadura- e iniciou a construção da democracia em Portugal; uma democracia que pôs em andamento profundas transformações revolucionárias nas esferas política, social e económica.
Se, nas suas origens, aqueles que compunham o Movimento das Forças Armadas, cansados do desprezo das autoridades fascistas e de uma guerra colonial que afogou Portugal, tinham como principal objetivo recuperar o prestígio do Exército e acabar com a guerra, em pouco tempo ocorreu uma politização que os levou a considerar que era necessário derrubar o regime.
Um processo de politização que foi possível graças à existência de uma resistência antifascista que durante a ditadura manteve a luta pela democracia, pela liberdade e pelos direitos das massas trabalhadoras e camponesas e da juventude, uma luta de resistência em que teve papel de destaque a militância comunista.
Se o acontecido a 25 de Abril passou de golpe militar a revolução foi por impulso do povo, que não se contentou em ser espectador da derrubada do fascismo, mas decidiu ser protagonista na construção do seu próprio futuro, consciente de que os direitos são o resultado da luta. Um povo que avançou na realização de grandes conquistas democráticas e sociais, na libertação dos presos políticos, nos direitos laborais e sociais, na nacionalização de sectores estratégicos da economia, na reforma agrária, no fim da guerra colonial e no reconhecimento da independência dos povos colonizados.
Muitas dessas conquistas ficaram consagradas na Constituição da República Portuguesa; uma Constituição que, apesar das alterações que sofreu nos últimos anos fruto do processo contra-revolucionário e de décadas de política de direita, continua a afirmar “…a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.”
A UPG saúda o 25 de Abril porque a Revolução Portuguesa também tem uma relação estreita com a Galiza, desde o facto de o Grândola Vila Morena ter sido interpretada pela primeira vez em Compostela em Maio de 1972, ao apoio que o Portugal revolucionário deu aos dirigentes e militantes do nosso Partido quando, perseguidos pela ditadura franquista, encontraram asilo e ajuda solidária além Minho.
Além disso, a Revolução portuguesa mostrou que era possível romper com o fascismo, construir um regime político republicano e democrático e reconhecer o direito à autodeterminação e à independência. Algo que na Galiza e no conjunto do Estado espanhol não foi possível devido à traição daqueles que aceitaram a chamada Transição democrática e à imposição de uma monarquia na figura de quem Franco nomeou seu herdeiro como Chefe de Estado.
Não somos nostálgicos e temos consciência de que as circunstâncias em Portugal e no mundo mudaram muito nestes anos, com perdas de direitos e grandes retrocessos e com o perigo que representa o imperialismo e a sua política de guerra e exploração. Saudamos a Revolução Portuguesa como exemplo de que na história, quando as massas populares decidirem tomar o seu destino nas mãos, poderão dar passos em frente na construção de um mundo melhor, a partir da defesa da democracia, da justiça social e do direito de todos os povos -também do galego- à sua independência nacional no caminho para o socialismo. Para esse objetivo continuamos trabalhando na Galiza.
Compostela; 25 de abril de 2024
Unión do Povo Galego